Michele Soares nasceu em 2000 e estuda Letras na Universidade de São Paulo. Quanto ao resto, está tentando.
satíricas
i.
por uma tentativa de esmigalhar o tédio nos dedos
como um pernilongo pesado do sangue dos outros.
ii.
como numa festa em que Tim Maia e macarena
te avisam que já passa da hora — não interessa qual.
iii.
— acende a luz.
— gosto do escuro.
— acende, acende.
e vejo teus olhos borrados de saudade.
iv.
escrevo como limpo e encero a casa
esperando alguém que mandou mensagem
seis horas antes avisando que não vinha — e não veio!
mas eu não vi.
v.
uma tristeza que se aloja
nesse quarto de hora.
melancólicas
i.
a frase “ele sentia que a saúde estava boa”
na penúltima página de uma biografia.
ii.
ir ao theatro para a primeira ópera
sem ser a atriz, a ribalta
e muito menos a música.
iii.
responder “beijos” com “até mais”
assinar o todo do nome
no lugar das iniciais, ponto.
iv.
enfim gostar da música favorita dele
quando ele já foi embora.
v.
ir se esquecendo das cores do céu
enquanto ainda é possível vê-las.
Ilustração: Finale! de Lou Mayer (1915).